terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Feliz Sem Novo Noel!

Feliz Sem Novo Noel!

Por José Martins Cajaíba

Conta a lenda que há muitos e muitos anos, lá num distante e incerto lugar, existiu um povo muito pacífico, amoroso e feliz. Não tinham e muito menos sabiam o que era calendário gregoriano, horário, relógio e outras coisinhas ditas como modernas. O que valia era o funcionamento orgânico do corpo. Dormiam com as galinhas e acordavam com os galos.
Para esse povo - "Rongos" - os dias eram simplesmente iguais. Não havia sábados, domingos, feriados, dias úteis e inúteis. Tinham apenas manhã, tarde, noite e madrugada. Os compromissos e encontros eram organizados e respeitados pelo ciclo do nascer e pôr do sol. Era tudo na base do viver e amar. Palavras e expressões como Feliz Natal; Próspero Ano Novo; Papai Noel; Comprar Presentes; Visitar Parentes; Confraternização; Ceia Natalina; Bom Velhinho etc. não tinham o menor significado para os Rongos. Eram como o vento ou um vazio mental. Eles simplesmente não sabiam que negócio era esse.
Tudo ia muito bem, até que um dia receberam a visita de um elegante grupo de meia dúzia de rapazes e moças. Todos muito bem trajados, de acordo com as últimas tendências da moda, com fotos da Madonna, notebooks e celulares de última geração. Tudo muito fashion e fútil. O grupo visitante trazia a tradicional, desgastada e óbvia mensagem de paz, amor e felicidade, como se os Rongos não vivessem assim e precisassem disso. O curioso era que o comportamento do grupo não refletia a tal mensagem. Pois é! No lugar da paz, uma certa agressividade; no do amor, desrespeito e no da felicidade, tristeza. O grupo oferecia ao ordeiro povo as suas ditas novidades e trivialidades de final de ano o que, independentemente da intenção, provocou um conflito cultural e de valores. E aí tudo começou.
"Mas como assim? Vocês não vão às lojas comprar presentes? Não vão desejar feliz natal às pessoas? Nem, unzinho só, feliz ano novo?" Perguntou - entre susto e surpresa - um dos rapazes (o mais falante) do grupo visitante. Uma das moças, agressivamente arrematou: "Então vocês vão passar as festas sozinhos, abandonados e longe dos parentes?" E ainda tentou ser cruel ao concluir: "Vocês estão desrespeitando uma tradição universal!"
Pacientemente os Rongos ouviam e suavemente sorriam. "Não, não estamos sozinhos e muito menos abandonados. É que escolhemos viver assim. Esse é o nosso estilo de vida!" respondia um amável senhor, quando... de repente uma outra moça visitante intrometeu-se e: "Tá bom, mas pelos menos vocês vão fazer uma ceia de confraternização e de demonstração de amor ao próximo. Ah, isso vocês vão, não é?"
E os Rongos concluíram: "Compreendemos e respeitamos a intenção de vocês. É que vivemos felizes e amamos as pessoas independentemente de dias, datas e horários. Não estamos aprisionados a tradições, modismos e ideias de consumo. Não somos reféns das coisas estabelecidas. Não precisamos que digam quando devemos ficar alegres. Somos assim, livres e responsáveis pelas nossas escolhas. Leves e soltos!"
Fez-se um enigmático silêncio. "Bem, está na hora de partirmos" disse um dos rapazes. Todos se cumprimentaram e o grupo foi embora, não sem antes desejar aquelas coisas e repetindo as batidas palavras, que para os Rongos não tinham qualquer significado.
Enquanto o grupo se afastava e reprisava as palavras, os Rongos, incrédulos e ingenuamente, retribuíam em alto e bom som com algumas das palavras que tinham ouvido: "Feliz Sem Novo Noel!"
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José Martins Cajaíba - Acredita na paz, no amor e na liberdade. Também acredita na felicidade, mesmo SEM! -
jcajaiba@qualymar.com.br

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