segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Fábio Sombra


Fábio Sombra (Rio de Janeiro, 1965) é um escritor brasileiro. Suas obras para crianças e jovens, geralmente abordam temas da cultura popular brasileira como: folias de reis, desafios em versos e cantorias de viola. Seu livro “A lenda do violeiro invejoso” (2005) recebeu da FNLIJ o selo de “Altamente recomendável para o jovem”. Fábio Sombra é membro da ABLC – Academia Brasileira de Literatura de Cordel, onde ocupa a cadeira de número 03, dedicada ao poeta Firmino Teixeira do Amaral.

Obras publicadas:

Rio de Janeiro by Fábio Sombra – Ed. Viana e Mosley – 2004
A Lenda do violeiro invejoso – Ed. Rocco – 2005
A peleja do violeiro Magrilim com a formosa princesa Jezebel – Ed. Lê – 2008
A caravana do oriente – Ed. Rocco – 2008
Magrilim e Jezebel em: O rei do ABC – Ed. Lê – 2009
Armando e o mistério da garrafa – Ed. Abacatte– 2009
Curupiras, sacis e outras criaturas fantásticas das florestas – Ed. Rocco – 2009 Brincadeira de arco-íris – Ed. Ao Livro Técnico – 2009
Cantos e contas – Ed. Ao Livro Técnico – 2009
Treze casos de viola e violeiros – Ed. Escrita Fina – 2010
João Valente – Ed. Abacatte – 2010
O soldado que assustou a morte - Ed. Mundo Mirim - 2010


Fonte:

Ferreira Goulart


Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira (São Luís, 10 de setembro de 1930) é um poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista e ensaísta brasileiro e um dos fundadores do neoconcretismo.

Biografia:

Segundo Mauricio Vaitsman, ao lado de Bandeira Tribuzi, Luci Teixeira, Lago Burnet, José Bento, José Sarney e outros escritores, fez parte de um movimento literário difundido através da revista que lançou o pós-modernismo no Maranhão, A Ilha, da qual foi um dos fundadores.

Morando no Rio de Janeiro, irá participar do movimento da
poesia concreta, sendo então um poeta extremamente inovador, escrevendo seus poemas, por exemplo, em placas de madeira, gravando-os.
Em 1956 participou da exposição concretista que é considerada o marco oficial do início da poesia concreta, tendo se afastado desta em 1959, criando, junto com
Lígia Clark e Hélio Oiticica, o neoconcretismo, que valorizava a expressão e a subjetividade em oposição ao concretismo ortodoxo. Posteriormente, ainda no início dos anos de 1960, se afastará deste grupo também, por concluir que o movimento levaria ao abandono do vínculo entre a palavra e a poesia, passando a produzir uma poesia engajada e envolvendo-se com os CPC's.

Prêmios:

Ganhou o concurso de poesia promovido pelo Jornal de Letras com seu poema "O Galo" em 1950. Os prêmios Molière, o Saci e outros prêmios do teatro em 1966 com "Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come", que é considerada uma obra prima do teatro moderno brasileiro.

Em 2002, foi indicado por nove professores dos Estados Unidos, do Brasil e de Portugal para o Prêmio Nobel de Literatura. Em 2007, seu livro Resmungos ganhou o Prêmio Jabuti de melhor livro de ficção do ano. O livro, editado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, reúne crônicas de Gullar publicadas no jornal "Folha de São Paulo" no ano de 2005. Foi considerado pela Revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009.
Foi agraciado com o
Prémio Camões 2010.

Bibliografia:

Poesia:

Um pouco acima do chão, 1949
A luta corporal, 1954
Poemas, 1958
João Boa-Morte, cabra marcado para morrer (cordel), 1962
Quem matou Aparecida? (cordel), 1962
A luta corporal e novos poemas, 1966
História de um valente, (cordel; na clandestinidade, como João Salgueiro), 1966
Por você por mim, 1968
Dentro da noite veloz, 1975
Poema sujo, (onde localiza-se a letra de
Trenzinho do Caipira) 1976
Na vertigem do dia, 1980
Crime na flora ou Ordem e progresso, 1986
Barulhos, 1987
O formigueiro, 1991
Muitas vozes, 1999
Antologias
Antologia poética, 1977
Toda poesia, 1980
Ferreira Gullar - seleção de Beth Brait, 1981
Os melhores poemas de Ferreira Gullar - seleção de Alfredo Bosi, 1983
Poemas escolhidos, 1989
Contos e crônicas
Gamação, 1996
Cidades inventadas, 1997
Resmungos, 2007

Teatro:

Um rubi no umbigo, 1979

Crônicas:

A estranha vida banal, 1989
O menino e o arco-íris, 2001
Memórias:
Rabo de foguete - Os anos de exílio, 1998
Biografia:
Nise da Silveira: uma psiquiatra rebelde, 1996
Ensaios:
Teoria do não-objeto, 1959
Cultura posta em questão, 1965
Vanguarda e subdesenvolvimento, 1969
Augusto do Anjos ou Vida e morte nordestina, 1977
Tentativa de compreensão: arte concreta, arte neoconcreta - Uma contribuição brasileira, 1977
Uma luz no chão, 1978
Sobre arte, 1983
Etapas da arte contemporânea: do cubismo à arte neoconcreta, 1985
Indagações de hoje, 1989
Argumentação contra a morte da arte, 1993
O Grupo Frente e a reação neoconcreta, 1998
Cultura posta em questão/Vanguarda e subdesenvolvimento, 2002
Rembrandt, 2002
Relâmpagos, 2003
Televisão:
Araponga - 1990/1991 (Rede Globo) - colaborador
Dona Flor e Seus Dois Maridos - 1998 (Rede Globo) - colaborador
Irmãos Coragem - 1995 (Rede Globo) - colaborador


Bebel Gilberto


Isabel Gilberto de Oliveira, mais conhecida por Bebel Gilberto (Nova Iorque, 12 de maio de 1966) é uma cantora e compositora brasileiro-americana.

É filha dos cantores brasileiros João Gilberto e Miúcha. Começou a cantar cedo, participando de coros infantis em discos e musicais como Os Saltimbancos e Pirlimpimpim.

Estreou ao lado do pai, cantando Chega de Saudade, no especial João Gilberto do Prado Pereira de Oliveira, em 1980. Trabalhou no filme A cor do seu destino, de Jorge Durán. Era grande amiga de Cazuza e fez um dueto com o cantor na música Preciso Dizer Que Te Amo da qual era co-autora. Bebel compôs em parceria com Cazuza e Dé Palmeira, além de Preciso Dizer que te Amo, as canções Amigos de Bar, Mais Feliz e Mulher sem Razão. Participou do projeto Peeping Tom de Mike Patton (ex-vocalista do Faith No More), cantando "Caipirinha".

Atualmente reside em Nova Iorque, mas divide seu tempo entre os Estados Unidos e o Brasil, onde reside no Rio de Janeiro. Faz sucesso também na Europa, sendo uma das cantoras mais bem cotadas pelo leste europeu. Seu primeiro disco, Tanto Tempo, foi um dos discos mais bem cotados por público e crítica, sendo eleito um dos 1.000 discos que devem ser ouvidos antes de morrer. Bebel ainda lançou em 2004 seu segundo disco, Bebel Gilberto, que, apesar de ter ganho muitos prêmios pelo mundo (sobre tudo pelos singles "Aganjú" e "Simplesmente"), é considerado como seu disco mais fraco. Em 2007 lançou seu terceiro disco mundial, Momento que, mesmo não tendo atingido o mesmo sucesso de seu primeiro disco, foi um dos discos mais ouvidos do ano. Em 2009 pretende lançar novo Cd, All in One, com regravações de canções como "Bim Bom" e "Chica Chica Boom Chic".

Discografia:
Álbuns

1986: EP Bebel Gilberto
1991: Louquinha (mercado japonês)
2000: Tanto Tempo
2004: Bebel Gilberto
2007: Momento
2009: All in One

Compilações:

2001: Tanto Tempo Remixes
2002: Tanto Tempo Remixes [Japan]
2005: Bebel Gilberto Remixed


2000: Sem Contenção
2001: Tanto Tempo [Kruder Remixes]
2002: So Nice
2003: Close Your Eyes
2004: Aganju Pt. 1
2004: Aganju Pt. 2
2004: Aganju/Winter
2004: All Around
2004: River Song
2005: Remixed, Pt. 1 [Simplesmente]
2005: Remixed, Pt. 2 [5 Tracks]
2005: Remixed Vinyl 2
2005: Remixes EP

Participações:

1983: Geraldo Pereira
1977:
Os Saltimbancos (com Chico Buarque)
1980: A Arca de Noé (com
Vinicius de Moraes)
1981: Os Saltimbancos Trapalhões (com Chico Buarque, Miúcha e
Lucinha Lins
1981: Menino do Rio
1995: Future Listening (com
Towa Tei)
2002: The Best of Brazilian Jazz
2004: Namorando a Rosa
2006: Duetos
2006: Peeping Tom (na música Caipirinha com
Mike Patton)

Filmografia:

Referências

Yahoo!. Saltimbancos Trapalhões. Página visitada em 13/09/2008.
Clique Music UOL.
The Best of Brazilian Jazz - Vários Intérpretes. Página visitada em 13/09/2008.
Biscoito Fino.
Bebel Gilberto. Página visitada em 13/09/2008.


quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Manoel de Barros


Manoel Wenceslau Leite de Barros (Cuiabá, 19 de dezembro de 1916) é um poeta brasileiro do século XX, pertencente, cronologicamente à Geração de 45, mas formalmente ao Modernismo brasileiro, se situando mais próximo das vanguardas européias do início do século e da Poesia Pau-Brasil e da Antropofagia de Oswald de Andrade. Recebeu vários prêmios literários, entre eles, dois Prêmios Jabutis. É o mais aclamado poeta brasileiro da contemporaneidade nos meios literários. Enquanto ainda escrevia, Carlos Drummond de Andrade recusou o epíteto de maior poeta vivo do Brasil em favor de Manoel de Barros.

Seu primeiro livro não era de poesia, e teria se perdido em razão de uma confusão com a polícia. Quando vivia no Rio de Janeiro, aos 18 anos, tendo entrado para a Juventude Comunista, pichou as palavras "Viva o Comunismo" em uma estátua. Quando a polícia foi buscá-lo na pensão onde vivia, a dona do estabelecimento pediu para "não prender o menino, tão bom que até teria escrito um livro, chamado 'Nossa Senhora de Minha Escuridão'". Tendo o policial que comandava a operação se sensiblizado, o poeta não foi preso, mas o livro foi perdido, pois o policial levou-o consigo.

Embora a poesia tenha estado presente em sua vida desde os 13 anos de idade, teria escrito o primeiro poema somente aos 19 anos. Seu primeiro livro publicado foi "Poemas concebidos sem pecado" (1937), feito artesanalmente por amigos numa tiragem de 20 exemplares mais um, que ficou com ele.

Rompe com o Partido Comunista quando o seu líder, Luís Carlos Prestes, após 10 anos de prisão política durante o regime getulista, resolve declarar apoio ao presidente Getúlio Vargas, que já havia entregue sua esposa Olga Benário ao regime nazista da Alemanha, onde ela morreu.

Após sua decepção, vive na Bolívia, no Peru e também, durante um ano, em Nova Iorque, onde faz um curso de cinema e pintura no Museu de Arte Moderna.

Na década de 1960 voltou para Campo Grande, onde passou a viver como criador de gado, sem nunca deixar de trabalhar incansavelmente em seu ofício de poeta.

Apesar de ter escrito muitos livros durante toda a sua vida e de ter ganho vários prêmios literários desde 1960, durante muito tempo sua obra ficou desconhecida do grande público. Possivelmente porque o poeta não frequentava os meios literários e editoriais e, deduzindo-se das palavras do poeta (ele diz "por orgulho"), por não bajular ninguém.

Seu trabalho começou a ser valorizado nacionalmente a partir da descoberta deste por parte de Millôr Fernandes, já na década de 1980. A partir daí, ganhou reconhecimento através de vários dos maiores prêmios literários do Brasil, como o Jabuti, em 1987, com "O guardador de águas".

Atualmente, é considerado o maior ou um dos maiores poetas vivos do Brasil, sendo o mais aclamado atualmente nos círculos literários do seu país. Seu trabalho tem sido publicado em Portugal, onde é um dos poetas contemporâneos brasileiros mais conhecidos, na Espanha e na França.

A poesia:

Somente após as suas duas primeiras publicações em livro, as quais expressavam um lirismo mais subjetivo, a poesia de Manoel de Barros assume as características que marcam a sua obra.

Na sua obra de estréia, "Poemas concebidos sem pecado" (1937), apesar do tom auto-biográfico de poemas como "Cabeludinho", nota-se claramente a inserção do poeta no ModernismoIracema), do Parnasianismo, e da influência de Macunaíma de Mário de Andrade, admitida e criticada pelo próprio Barros. Algumas construções próximas do primeiro vanguardismo europeu e da oralidade brasileira também são perceptíveis. brasileiro de 1922, através da discussão da tradição literária brasileira ( Após a publicação de "A face imóvel" (1942), sua poesia passa a ter como "pano de fundo" o pantanal, indo sua temática, porém, muito além disto. Sendo aquele o universo onde os poemas se "desenrolam", ele é representado através de sua natureza e do seu cotidiano, usando uma linguagem que procura transformar em tátil aquilo que é abstrato. O filólogo Antonio Houaiss o compara a São Francisco de Assis, "na sua humildade diante das coisas".

Transfigurando aquele universo aparentemente pequeno, Manoel de Barros mostra, em realidade, o verdadeiro tamanho do homem diante da natureza, bem como diante das coisas. Isto fica claro diante, até mesmo, dos títulos dos seus livros, tais como "Compêndio para uso dos pássaros" (1960), "Gramática expositiva do chão"(1966) , "Tratado geral das grandezas do ínfimo"(2001). Ainda segundo Antonio Houaiss, a poesia de Manoel de Barros, sob a aparência surrealista, é de uma enorme racionalidade: "suas visões, oníricas num primeiro instante, logo se revelam muito reais...

"Outras características marcantes da poesia de Manoel de Barros são o uso de vocabulário coloquial-rural e de uma sintaxe que remete diretamente à oralidade, ampliando as possibilidades expressivas e comunicativas do seu léxico através da formação de palavras novas (neologismos). Assim, pelo uso que Manoel de Barros faz da lingua escrita reproduzindo e desnvolvendo o legado da oralidade em todos os seus níveis, seu trabalho tem sido muitas vezes comparado ao de Guimarães Rosa, muitos referindo-se ao poeta como "o Guimarães Rosa da poesia". "Desde Guimarães Rosa a nossa língua não se submete a tamanha instabilidade semântica", teria dito o poeta Geraldo Carneiro a seu respeito.

Pode-se dizer que Manoel de Barros, na poesia, tal como Guimarães Rosa na prosa, teria desenvolvido às últimas consequências aquilo que Oswald de Andrade expressava, programaticamente, em seu Manifesto Antropófago.

Talvez, por todas essa características, ele próprio definiu sua arte como "vanguarda primitiva", tendo consciência da sua relação com as vanguardas e o modernismo brasileiro, principalmente o de Oswald de Andrade, vivenciada junto à natureza. Manoel de Barros nunca se afasta do "vanguardismo primitivista"(ver primitivismo), como se pode notar pelo título "Poesia Rupestre" (2004), ganhador de vários prêmios literários de repercussão em todo o Brasil.

Obras:

  • 1937 — Poemas concebidos sem pecado
  • 1942 — Face imóvel
  • 1956 — Poesias
  • 1960 — Compêndio para uso dos pássaros
  • 1966 — Gramática expositiva do chão
  • 1974 — Matéria de poesia
  • 1980 — Arranjos para assobio
  • 1985 — Livro de pré-coisas
  • 1989 — O guardador das águas
  • 1990 — Gramática expositiva do chão: Poesia quase toda
  • 1993 — Concerto a céu aberto para solos de aves
  • 1993 — O livro das ignorãças
  • 1996 — Livro sobre nada
  • 1996 — Das Buch der Unwissenheiten - Edição da revista alemã Akzente
  • 1998 — Retrato do artista quando coisa
  • 2000 — Ensaios fotográficos
  • 2000 — Exercícios de ser criança
  • 2000 — Encantador de palavras - Edição portuguesa
  • 2001 — O fazedor de amanhecer
  • 2001 — Tratado geral das grandezas do ínfimo
  • 2001 — Águas
  • 2003 — Para encontrar o azul eu uso pássaros
  • 2003 — Cantigas para um passarinho à toa
  • 2003 — Les paroles sans limite - Edição francesa
  • 2003 — Todo lo que no invento es falso - Antologia na Espanha
  • 2004 — Poemas Rupestres
  • 2005 — Riba del dessemblat. Antologia poètica — Edição catalã (2005, Lleonard Muntaner, Editor)
  • 2005 — Memórias inventadas I
  • 2006 — Memórias inventadas II
  • 2007 — Memórias inventadas III
  • 2010 — Menino do Mato
  • 2010 — Poesias Completas

Prêmios:

  • 1960 — Prêmio Orlando Dantas - Diário de Notícias, com o livro Compêndio para uso dos pássaros;
  • 1966 — Prêmio Nacional de poesias, com o livro Gramática expositiva do chão;
  • 1969 - Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal, com o livro Gramática expositiva do chão.
  • 1989Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria Poesia, como o livro O guardador de águas;
  • 1990 — Prêmio Jacaré de Prata da Secretaria de Cultura de Mato Grosso do Sul como melhor escritor do ano;
  • 1996 — Prêmio Alfonso Guimarães da Biblioteca Nacional, com o livro Livro das ignorãnças;
  • 1997 — Prêmio Nestlé de Poesia, com o livro Livro sobre nada;
  • 1998 — Prêmio Nacional de Literatura do Ministério da Cultura, pelo conjunto da obra;
  • 2000 — Prêmio Odilo Costa Filho - Fundação do Livro Infanto Juvenil, com o livro Exercício de ser criança;
  • 2000 — Prêmio Academia Brasileira de Letras, com o livro Exercício de ser criança;
  • 2002Prêmio Jabuti de Literatura, na categoria livro de ficção, com O fazedor de amanhecer;
  • 2005 — Prêmio APCA 2004 de melhor poesia, com o livro Poemas rupestres;
  • 2006Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira, com o livro Poemas rupestres.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Manoel_de_Barros

domingo, 22 de agosto de 2010

Ruy Duarte de Carvalho




O autor angolano Ruy Duarte de Carvalho (n. 1941), antropólogo doutorado pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris. Exerceu a actividade de Professor da Universidade de Luanda e foi Professor Convidado na Universidade de Coimbra (Portugal) e na Universidade de São Paulo (Brasil). Estudou cinema em Londres e realizou inúmeras horas de cinema directo filmado entre populações do sul de Angola.

Obras de Ruy Duarte de Carvalho publicadas no estrangeiro:


Vou lá visitar pastores- Brasil, pela Gryphus
As actas da Maianga- Angola, pela Chá de Caxinde
Os Papéis do Inglês- Angola, pela Chá de Caxinde- Brasil, pela Companhia das Letras de São Paulo- Itália, pela La Nuova Frontiera.

Em meados do século passado desembarquei em Lisboa com uma bicicleta e uma caixa de tintas a óleo na bagagem. Eram prendas preciosas, uma de aniversário e outra por ter feito o 2º ano do liceu, de que tinha conseguido não me separar quando por decisão familiar fui nessa altura remetido de Moçâmedes para fazer em Santarém, num prazo de 5 anos, o curso de regente agrícola. Mas nem da bicicleta nem das tintas a óleo nunca mais voltei a fazer uso. Passei esses 5 anos na condição de aluno interno, a residir no próprio estabelecimento escolar, e tanto as tintas a óleo, que eram o reconhecimento dos meus mais evidentes talentos de infância, como a bicicleta, que era uma adjectivação de gloriosas adolescências coloniais, foram sacrificadas à disciplina e ao programa da minha estadia em Portugal. Fiz o que tinha a fazer dentro do prazo previsto, fui sendo bom aluno e isso me foi assegurando o direito de vir a Angola com passagens por conta do estado durante quase todas as férias grandes. E em 1960, com 19 anos, voltei definitivamente à jóia da coroa do império português para começar a fazer pela vida, até hoje e a partir daí, conforme as circunstâncias e segundo os meus próprios critérios...

Não estou, porém, evidentemente, a contar a estória pelo princípio. Quando de facto fui embarcado em Moçâmedes com destino a Santarém, eu estava também a ser remetido ao exacto local do meu nascimento biológico e de onde, mais cedo portanto, tinha vindo com a família, que entretanto emigrava arruinada mas servida ainda de criada branca e acompanhada de cães de caça, desembarcar em Moçâmedes. De qualquer maneira o que me calhou na vida foi estar de volta a Angola com um curso médio já feito quando a maioria dos sujeitos angolanos da minha classe etária e com recursos para estudar, com alguns dos quais eu tinha feito o 2º ano do liceu, estava a ser, por sua vez, expedida para a metrópole para estudar em faculdades. Não beneficiei, assim, nem de uma iniciação universitária comum nem da escola de cativação ideológica que também foi para a minha geração a casa dos estudantes do império, por exemplo, e pelo menos duas consequências maiores para o meu percurso biográfico terão resultado desta configuração das coisas : a primeira é que o lugar onde vim ao mundo, na Europa, sempre constituiu para mim, desde que me lembro a enfrentar a vida e a reflectir nas coisas, uma referência de exílio; a segunda é que tudo quanto pela vida fora se me foi revelando em termos de relação com o tempo histórico que foi o meu, e determinando o meu lugar cívico no mundo, acabou de uma maneira geral por me ocorrer a maior parte das vezes de maneira directa, física e existencialmente interpelativa, e não raro brutal, para só vir a impor-se de forma ainda assim mentalmente muito elaborada e muito ruminada, nalguns casos, teoria ajudando, quase sempre só depois.

Lembro-me de ter nascido, ou então de ter mudado inteiramente tanto de alma como de pele, pelo menos uma meia dúzia de vezes ao longo da vida e nenhuma delas foi lá onde terei, pela primeira vez, dado conta da luz do mundo. De que havia uma matriz geográfica que essa é que me dizia de facto muito intimamente respeito pela via quem sabe de uma qualquer memória genética, dei conta aos doze anos - lembro-me sempre de cada vez que ainda por lá passo e se calhar é para isso que ando sempre a ver se passo por lá – a comer pão e com um ataque de soluços no meio do deserto de Moçâmedes, por alturas do Pico do Azevedo. E de que havia uma razão de Angola que colidia com a razão de Portugal, disso dei definitivamente conta já a trabalhar nas matas do Uíge quando, em março de 1961, eclodiu a sublevação nacionalista no norte de Angola.

Sobrevivi então aí absolutamente à justa e a tempo de me refazer de tanta perplexidade e de tanto horror, tanto insurreicional como repressivo, quando a seguir, numa memorável noite em Luanda, houve quem me sussurrasse, em passeio pelas ruas da baixa, versos nacionalistas de Aires de Almeida Santos e de Viriato da Cruz que me revelaram uma alma de Angola que se me vinha oferecer sob medida e pela via do arrepio para eu ajustar à razão de Angola que a sublevação tinha acabado de me dar a reconhecer in vivo, e de que a partir daí passei a socorre-me para ver se conseguia conferir algum sentido à condição de orfão do império a que a vida, apercebi-me logo, me tinha destinado. Quando logo a seguir, também, a idade e o desamparo me colocaram com um papel na mão para apresentar-me no Huambo ao serviço da tropa colonial, e depois fui transferido para Luanda, já tinha conseguido que alguns mais-velhos da luta clandestina nacionalista me atribuíssem mínimas tarefas menores, como dactilografar, para posterior distribuição pelos musseques, poemas de revolta de autoria anónima e esclarecedora má qualidade. Mas depois foi uma data de gente presa e a tropa só não me entregou também à pide porque o comandante da secção de justiça do quartel a que eu pertencia era casado com uma filha de Moçâmedes e decidiu arriscar, e os informou que preso já eu estava, por razões disciplinares. Passei ainda uns tempos fardado de soldado português a fazer desenhos no quartel-general, mas depois fui requisitado, como técnico agrário, pelo instituto do café, e mandado para a Gabela e mais tarde para Calulo. Ligações políticas efectivas com a insurgência nacionalista, nunca mais encontrei maneira de as restabelecer... e também nada ajudava... nem a cor da pele que é a minha nem o cargo de engenheiro que ocupava... e o máximo que consegui foi ser dado como persona non grata pela administração do Libolo, junto com um padre basco e um médico português, e afastado compulsivamente dali. Pouco para currículo político.


Arranjei então outro emprego e mudei para a Catumbela, onde fui responsável pela pecuária de uma grande empresa açucareira. E foi nessa condição que levei tal volta passados três anos - de mim para mim e a sós ou quase e a arriscar os meus primeiros poemas afundado no interior do imenso platô de Benguela, extremo norte do deserto do Namibe, onde, em plena fúria, tinha posto cinco mil ovelhas a pastar e a parir e doze furos artesianos a puxar água do fundo do deserto - , levei então tamanha volta que andei os três anos seguintes a derivar pelo mundo. Estive em Hamburgo, em Copenhaga e em Bruxelas, sempre na pista da insurgência nacionalista, mas quando finalmente consegui chegar a Argel, para contactar com as forças da luta, ninguém ali me levou a sério ou então voluntaristas como eu já tinham lá que chegasse e até nem sabiam muito bem o que é que lhes haviam de fazer. Foi depois disso e de outros precalços que acabei mais tarde por ver-me a exercer funções de chefe de fabricação de cerveja em Lourenço Marques - Maputo - e estive a seguir em Londres, com um dinheiro que pedi emprestado, a fazer um curso de realização de cinema e de televisão. Na sequência dessa volta toda é que acabei por voltar a Angola em 1974 e por passar a noite de 10 para 11 de Novembro de 1975 no município do Prenda, em Luanda, a filmar às zero horas, que foi uma hora zero, a bandeira portuguesa a ser arreada e a de Angola a subir no mastro.

Se a razão para estar agora aqui a contar estas passagens da minha vida é ter escrito até hoje meia dúzia de livros, então já nessa altura, quando foi da independência, tinha o primeiro livro de poesia publicado. Era o resultado da volta que tinha levado na Talamanjamba, no interior do platô de Benguela. E tinha muita escrita alinhavada e era a altura e a idade de anotar quase tudo. Quase tudo poesia. E disso dirão os próprios livros. Quanto à vida cívica, de cidadão angolano comum, de opção e de condição, de 75 até 81 fiz pela a vida e pela revolução realizando filmes para a televisão angolana e para o instituto angolano de cinema. E guardo a satisfação muito particular de ter visto a bandeira de Angola hasteada em muito lugar distante e mítico do mundo, em Samarkanda, por exemplo, precisamente por eu estar lá com trabalho meu. Mas entretanto foi deixando de dar para continuar a querer fazer cinema, e escrevi então um texto académico anti-cinema-etnográfico para juntar a um dos filmes que tinha feito – Nelisita – e obtive com isso o diploma da escola de altos estudos em ciências sociais, de Paris, o que me deu imediato acesso à condição de doutorando. Foi então o meu tempo de investigações de terreno, nas praias piscatórias de Luanda, e da minha modesta participação na reformulação de toda a teoria das identidades colectivas, em Paris. Durante essa meia dúzia de anos vivi entre pescadores, nas praias da Samba Grande e do Mussulo, e doutores, na Sorbonne e no Boulevard Raspail. A partir de 87, já doutorado, passei a dar aulas de antropologia social para arquitectos, na universidade de Luanda, e a aproveitar sabáticas para ir dar aulas também, e consumir bibliotecas, em Paris outra vez, Bordéus, São Paulo, Coimbra... Em 89 andei ainda por Cabo Verde a tentar filmar de novo, mas isso é mais é para esquecer. Depois, a partir de 92, fui arranjando maneira de ir passar cinco meses, todos os anos, misturado com os pastores do Namibe de quem, desde menino, andava a querer saber como conseguiam organizar a sua sobrevivência e a sua existência, tão diferenciada de tudo quanto os pressionava à volta. Foi para dar notícia disso sem ter de escrever naquele tom da escrita académica – de teses e artigos fui achando que já tinha tido a minha dose - que adoptei então essa maneira de escrever que depois me pôs na pista de uma meia-ficção-erudito-poético-viajeira em que venho insistindo.


Hoje continuo a não conseguir andar por fora muito tempo sem devolver-me ao murmúrio de Luanda, à noite, que sobe das traseiras da minha casa na Maianga, onde a vizinhança me trata por brancurui, e sem continuar a meter-me sempre que posso por esses suis abaixo, a penetar desertos e a inventar pastores. Procurei sempre, sob qualquer situação ou regime, e fosse quem fosse que estivesse a mandar, viver a condição de cidadão comum. Lido mal com o privilégio, caiba ele a quem couber, até a mim mesmo, e nunca consegui deixar de sentir-me, tanto antes como depois da independência, tido como minoritário, quer dizer, subalterno ou intruso que incomoda sempre, desde que dê nas vistas. Acho que entretanto sosseguei bastante, na vida, quando, já faz algum tempo, dei conta que afinal não só jamais viria a ser o melhor do mundo, quanto mais cá na banda. E que também não tinha obrigação nenhuma de o ser. Mas uma das questões pessoais que se me anda agora, com a idade, a por com mais frequência, é a de saber se será possível continuar a envelhecer sem sucumbir de todo a uma senilidade insuportavelmente azeda ou sem incorrer também numa dessas beatitudes patetas e patéticas que pretendem fundamentar-se numa sabedoria qualquer que a idade acumulada por si só garantiria. É verdade que um percurso biográfico se faz de tempos, de lugares, modos, percepções, ocorrências, experiências, resultados, aquisições, perplexidades, digestões e ressacas. Mas também é verdade que eu não vou nunca deixar de permanecer muito irremediavelmente ingénuo, embora não de todo burro, e de lidar muito mal com toda a ordem de leviandade, de irresponsabilidade, de arbitrariedade, de mentira, de prepotência, chantagem, esperteza, insolência e soberba, e de achar que o que mais envenena as relações entre as pessoas, quaisquer relações, é o uso e o abuso da boa-fé dos outros. E é disso que o mundo está cheio e a bem dizer se faz. E há de fazer-se sempre, talvez, porque afinal, parece, é assim mesmo que ele é. Temo não chegar nunca a ser capaz, mesmo senil, de vir a conformar-me com isso. E o resto são umas ideias minhas que ando ainda cá com elas.
Ruy Duarte de Carvalho

Obras do autor:

Os papéis do Inglês
Como se o mundo não tivesse Leste
Vou lá visitar pastores
Actas da Maianga . Dizer da(s) guerra(s) em Angola
Observação directa
As paisagens propícias Lavra. Poesia reunida de 1970/2000
Desmedida- LUANDA, SÃO PAULO, SÃO FRANCISCO E VOLTA. Crónicas do Brasil
A câmara, a escrita e a coisa dita...
A Terceira Metade

Fontes: http://www.livroscotovia.pt/autores/c/c_8.htm


A fome

(origem Kwanyama)

Quem pouco fala não diz nem bem nem mal
e o morto, no caixão
não tem voz ativa.
Tu, quando falas
matas os da cobra
e os da hiena
vão para a sepultura.
Para que nós, na desgraça, não roubemos
para que nós, viajantes, não roubemos ninguém
Senhor, Deus de Nangobe
dá-nos a chuva.
Avô dos miseráveis
Mãe dos pobres
Tio dos famintos
Mãe, Avô e Tio dos que caem nos caminhos da fome
faz sair a chuva
faz crescer os mantimentos
inunda-nos com a tua água.
Ajuda os pobres, Deus de Nangobe.
Cai chuva
e traz-nos a bênção
do canto das rãs.
Aonde dorme, a chuva?
Na figueira da Haudila?
Nos grandes paus de Solela?
Eu queria o vento.
Eu queria a tempestade
e a faísca que levanta
pela raiz
a pequena palmeira.
Rei Mahondi de Mwaeta
soberano Kahondi do Muvale:
Senhor!
O calor já está a prolongar-se.
A massambala seca
a semente definha
e a rama murcha.
A fome aproxima-se, Senhor!
A seca já chegou às nossas portas
e até já se instalou em nossas casas.
Levou alguns para a lagoa
outros foram para o Lubango.
Não há para onde fugir
quando se é presa da fome.
A fome é filha das feras
está no teu estômago e diz:
vai roubar, vai roubar.
Os seus cornos são agudos e direitos
mais finos do que azagaias.
Não deixam marca
nem ferida nem chaga.
Oh meu boi magro
quando a chuva morre
não há casa que não faça o inventário.
Luto pesado!

Fonte: http://betogomes.sites.uol.com.br/RuyDuartedeCarvalho.htm

Nota: O escritor, poeta, cineasta, artista plástico, e antropólogo Ruy Duarte Carvalho morreu na sua casa na cidade de Swakopmund, na Namíbia, aos 69 anos, no dia 12 de Agosto de 2010.

Português, e naturalizado angolano na década de 1980, Ruy Duarte de Carvalho foi um autor multifacetado, cuja obra se estende das artes plásticas ao cinema, passando pela antropologia e também pela poesia.
Ele costumava descrever a sua obra como "meia-ficção-erudito-poético viajeira".

Fonte: http://aeiou.expresso.pt/morreu-o-escritor-ruy-duarte-de-carvalho=f598803

Rosa Cleide Marques

domingo, 1 de agosto de 2010

HINO DA ESCOLA DA PONTE
de José Pacheco (ex diretor)


Estudar não é só ler os livros que há nas escolas;
É também aprender a ser livre, sem idéias tolas
Ler um livro é muito importante às vezes é urgente
Mas os livros não são o bastante para a gente ser gente
É preciso aprender a escrever, mas também a crescer, mas também a sonhar
É preciso aprender a viver, aprender a estudar.
Estar na Escola da Ponte é estudar,
Estar contente consigo é estudar,
Aprender com os outros, aprender consigo,
E ter um amigo é também estudar.
Estudar também é repartir, também é saber dar.
O que agente souber dividir, para multiplicar.
Estudar é escrever um ditado, sem ninguém nos ditar,
E se um erro nos for apontado, é sabê-lo emendar.
É preciso, em vez de um tinteiro, ter uma cabeça que saiba pensar
Pois, na escola da vida, primeiro está saber estudar.
Estar na Escola da Ponte é estudar,Estar contente consigo é estudar.
Aprender com os outros, aprender consigo
E ter um amigo é também estudar.
Aprender com os outros, aprender consigo
E ter um amigo é também estudar.

Adaptado de um poema de José Carlos Ary dos Santos e de uma melodia de Fernando TordoNo inicio ele canta um pedaço da música de Geraldo Vandre, e logo depois o lindo e profundo Hino da Escola da Ponte.

Fonte: http://almadeeducador.blogspot.com/2007/11/hino-da-escola-da-ponte.html